Parcelamento direto aquecerá as vendas do comércio, mas há risco de endividamento, advertem especialistas
Com Informações de O Dia/ Imagem Bruno Peres (Agência Brasil)
Consumidores e lojistas deverão ter acesso ao Pix Parcelado, nova modalidade do sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, a partir de setembro. O recurso permitirá que compras sejam divididas em parcelas, sem a necessidade de cartão de crédito. Procurado pelo O DIA, o Banco Central (BC) informou em nota que no fim do próximo mês serão divulgadas as "regras de funcionamento para padronizar o produto, uniformizar a experiência do usuário, facilitar acesso da população, garantir transparência e estimular o uso consciente desse crédito."
Especialistas avaliam que a funcionalidade deve se tornar um marco no sistema financeiro nacional. Para João Fraga, CEO da Paag, empresa de meios de pagamento, o Pix Parcelado é uma espécie de carnê digital, que é adaptado aos tempos atuais. Além disso, ele ressalta que a operação é semelhante a um empréstimo pessoal, em que o banco assume o risco e cobra juros conforme o perfil do cliente. "Essa nova funcionalidade permitirá que o pagador parcele uma compra; desta maneira, contrata-se o crédito pelo aplicativo do banco. O valor total da compra é pago imediatamente ao recebedor, isso garante a liquidez para o vendedor", diz.
Na avaliação de Fraga, o modelo pode reduzir a dependência do cartão de crédito. "O Pix parcelado pode, no futuro, reduzir substancialmente o uso do cartão de crédito para compras de parcelas no comércio brasileiro, já que oferece um modelo mais barato, transparente e imediato para lojistas e consumidores. Porém, no curto a médio prazo, deve coexistir como complemento, estimulando a concorrência entre os meios de pagamentos, o que é benéfico para todo o sistema financeiro e para o varejo", avalia

Fraga acrescenta ainda que o Pix Parcelado coloca o Brasil em posição de vanguarda no cenário internacional:
"O Brasil se destaca internacionalmente devido à criação do Pix e ao seu potencial inovador. […] O lançamento do método de pagamento despertou reações internacionais, especialmente dos EUA, que iniciaram uma investigação sobre práticas comerciais desleais, preocupados com o impacto da inovação brasileira na indústria global de cartões de crédito. O Brasil está na vanguarda mundial da inovação em pagamentos digitais."
A fundadora da Aarin, uma empresa de tecnologia que desenvolve e oferece soluções financeiras, Ticiana Amorim, também vê potencial para mudanças no consumo. Para ela, o Pix Parcelado traz a lógica do parcelamento, só que de uma maneira digital, instantânea e muito mais prática. "Distinto do carnê tradicional, ele ocorre dentro do ecossistema do Pix, com liquidação imediata para o lojista e maior conveniência para o consumidor”, explica.
Ela destaca ainda que o recurso pode ampliar a inclusão financeira. "Sem dúvida. O Pix Parcelado amplia o acesso ao crédito para quem hoje está fora do sistema tradicional. Milhões de brasileiros não possuem cartão de crédito, mas utilizam o Pix no dia a dia", ressalta. Ticiana lembra que, segundo levantamento da Quaest, 60% dos brasileiros de baixa renda não possuem cartão de crédito, mas 65% já usam o Pix como meio de pagamento.
O comércio também tem boas expectativas. O presidente do Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) e do Sindicato dos Lojistas d oRio de Janeiro (SindilojasRio), Aldo Gonçalves, afirma que a modalidade "será um alento na conjuntura mais restritiva do que ano passado, dando fôlego para o setor ao facilitar transações e criando possibilidades de pagamento mensais para quem não possui cartão de crédito, principalmente."
Segundo ele, o Pix Parcelado pode inclusive estimular novos hábitos de consumo. "Além disso, com o parcelamento o comerciante receberá valor integral do bem. Ainda que haja juros e IOF, o comprador que possui cartão tem a vantagem de poder ultrapassar o teto de gastos determinado pela instituição. O usuário do Pix parcelado assumirá compromisso de honrar as parcelas através de débito em conta. Neste caso, cada vez mais a tecnologia surpreende, tornando combustível para aquecer vendas."
Apesar do otimismo, Gonçalves alerta é preciso estar atento a cobranças e comparar a modalidade do Pix Parcelado com a do cartão de crédito para saber qual é a mais vantajosa, bem como se programar para cumprir com os pagamentos. "A concorrência vai estimular a oferta de serviços acessórios e, provavelmente, diminuir custos com o crédito. […] No contexto dos pagamentos não devemos esquecer da educação financeira e da necessidade de controle das contas, a fim de evitar desequilíbrios no orçamento familiar", alerta.
Vale lembrar que apenas quatro anos após o seu lançamento, o Pix já é o meio de pagamento mais difundido entre os brasileiros. O serviço de pagamento instantâneo é usado por 76,4% da população. Em seguida, vêm o cartão de débito (69,1%) e o dinheiro (68,9%). Os dados estão na pesquisa "O Brasileiro e sua Relação com o Dinheiro", publicada pelo BC no fim do ano passado.