Peris foi um mestre, um exemplo para vários novos profissionais
Por Matheus Berriel
Morreu na noite deste domingo (20) um expoente histórico da imprensa de Campos. Biógrafo do também campista Didi, o jornalista esportivo Péris Ribeiro tinha 80 anos e foi a óbito no Hospital Dr. Beda II, onde estava internado desde o último dia 12, tratando uma pneumonia e um quadro de água na pleura. Casado com Graça Jóia Mota, ele não teve filhos, mas deixa órfãs várias gerações da comunicação goitacá, que tanto beberam do seu vasto conhecimento e se alimentaram da impressionante memória, capaz de vencer até um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em 2004.
Com mais de 50 anos no jornalismo, José Péris Pinto Ribeiro afirmava que escolheu a crônica esportiva por paixão e vocação. Uma vocação, aliás, que não demorou a ser reconhecida. Péris estreou no extinto jornal "A Notícia" no final dos anos 1960, presenciando o auge do Campeonato Campista, com times históricos de Americano, Goytacaz, Rio Branco, Campos Atlético e até mesmo das usinas de cana-de-açúcar. Em meados da década seguinte, já estava morando em São Paulo e trabalhando na revista "Placar", até hoje considerada a principal do país no gênero. Foi nessa época que conheceu e entrevistou vários dos maiores craques do futebol brasileiro. Considerava seu principal trabalho a cobertura do título paulista do Corinthians em 1977, encerrando o jejum de 23 anos sem uma conquista.
Frequentador do Maracanã desde garoto, Péris Ribeiro era torcedor do Flamengo (inclusive no remo), mas o clubismo não superava seu fascínio pelo futebol-arte. Como não aplaudir também o Santos de Pelé? Ou o Botafogo do seu grande ídolo, Mané Garrincha, a quem exaltava pelos dribles artísticos? Outro "cobra" alvinegro, o conterrâneo Didi acabaria se tornando um amigo e personagem da sua principal obra. Ampliação do livro homônimo de 1993, a segunda edição de "Didi, o gênio da Folha Seca" (2009) rendeu a Péris o Prêmio João Saldanha em 2011, na categoria literatura, com o troféu sendo entregue pela Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj) na sede do Botafogo.
— Ambos nascemos em Campos, e a amizade existia há muitos anos — contou Péris em 2009, numa entrevista ao site da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). — O Didi sempre foi extremamente diplomático, mesmo em suas visitas a Campos. Diziam que ele não ia à sua terra, que ele jamais quis receber homenagem nenhuma de lá e aquelas coisas todas. O Didi nunca deixou de ir lá. Eu fui apresentado ao Didi pelo Pinheiro (ex-zagueiro e técnico do Fluminense), e aí a amizade floresceu e fomos amigos pela vida toda, até o Didi falecer — recordou.
Como escritor, Péris Ribeiro também publicou uma terceira edição da biografia de Didi, em 2014, além dos livros "O Brasil e as Copas" (1986) e "Em cima do lance" (2001). O interesse pela pesquisa histórica foi o principal fator para que se dedicasse à literatura, mas seu texto (leve e criativo) também continuou a serviço da imprensa, tendo colaborado com veículos como "Jornal do Brasil", "Jornal da Tarde", "O Estado de S. Paulo", "Folha de S.Paulo" e "Lance!", além da Folha da Manhã, quando retornou à cidade natal. Amigo de infância de Aluysio Cardoso Barbosa, fundador da Folha, tinha uma relação afetiva com o jornal, em que fez parte da criação do Troféu Folha Seca, que desde 2000 homenageia campistas com destaque nas suas áreas de atuação. Por sugestão sua, o primeiro homenageado foi Didi, cujo chute mais famoso dá nome à honraria.
Durante a extensa trajetória, Péris tornou-se grande amigo de jornalistas do naipe de Juca Kfouri e José Trajano. Em Campos, estimulou e influenciou outros que começavam a se destacar, como Elso Venâncio, Eraldo Leite, Cahê Mota, Wesley Machado e Matheus Berriel. Em parceria com Elso, elaborou recentemente o livro "Mensagens da bola", ainda a ser publicado, reunindo crônicas dos dois.
Outro comunicador incentivado por Péris, o radialista Arnaldo Garcia ressalta três paixões do amigo: além da crônica esportiva, a boemia e a música.
— Em 1983, fazíamos incursões pelas concentrações dos times cariocas que vinham a Campos para enfrentar, principalmente, o Americano. Péris me incentivou a escrever e, certa vez, participamos de um concurso de crônicas esportivas, em que ele foi premiado no primeiro lugar, e eu, em terceiro. Um contador de histórias, personagem de uma época em que eu era muito jovem, mas já participava de rodadas de cerveja, ouvindo boa música no Cabana's Bar, do Hotel Planície. Ali, Péris, Ângela Bastos, Del Braga, professor José Nilson e tantos outros se reuniam para conversas sadias, normalmente nas tardes de sábado. Fã de Didi, Péris era presença marcante sempre que o bicampeão mundial vinha a Campos. Com ele, aumentei o meu gosto pela leitura, principalmente pelas histórias do esporte. Como também era apaixonado por música, a Bossa Nova fascinava o meu amigo e fascina a mim, graças a ele — destaca.
Brilhante como um Garrincha e criativo como um Didi, Péris fez das páginas o seu campo. Recluso nos últimos anos de vida, se despediu com a suavidade de um Tom Jobim.